Desbravar, desmatar, ocupar, construir... Conjugar estes verbos era mais fácil do que praticar as ações que eles sugeriam. Os pioneiros de Rio do Oeste e região tiveram que conjugá-los diariamente, como lembra a historiadora Alice Arns: A época do pioneirismo pode ser caracterizado como um período de relativo progresso econômico. Trata-se, no entanto, de uma época de tomada de decisões, de estabelecimento, de ambientação e de planejamento econômico em consonância com as terras escolhidas. É preciso frisar que, dentro desse contexto, os pioneiros tiveram tarefa árdua, mormente diante das contingências que se lhes apresentavam.
O comércio era feito por pequenas vendas e o transporte de mercadorias, sempre que possível, era trabalho para os carroceiros, como narra Leandro Bertoli em suas memórias: Como carroceiro aqui em Rio do Oeste, tenho algumas lembranças... As viagens mais importantes eram daqui até a Estação de Morro Pelado. A viagem durava de dois dias e meio a três dias levantando cedo, naturalmente por estradas, as mais das vezes, péssimas, encalhando as carroças ou carroções, ter que descarregar as cargas e tornar a carregá-las após desencalhar a carroça.
Era duro! E isto para levar os produtos do comércio de meu pai, como sejam: milho, fardos de fumo em folha, erva-mate, banha, e outros. As carroças ou carretões (como se tratavam) eram puxados com quatro,cinco e até seis animais. Lembro que certa vez meu pai mandou o recado para descer com cargas até a estação da estrada de ferro de Subida. E que, sem falta, chegasse no outro dia de manhã cedo ás seis horas, quando passava a trem que partia da Estação de Ibirama. E que levasse o terno dele e o despachasse, pois tinha de ir a Florianópolis tratar de assunto de terras e estradas, com o governador. Aprontei ligeiro a carga e, no dia seguinte, viajei cedo, encalhando a toda hora pelas estradas. Em vez de chegar no mesmo dia, apenas consegui alcançar o Alto da Subida. No outro dia levantei bem cedo para chegar em tempo de despachar o terno ao meu pai, em Blumenau.
Infelizmente, mais adiante, devido ás más estradas, a carroça resvalou e foi se trancar, saindo da estrada. Felizmente, um cepo grosso não a deixou cair na grota... E agora? Impossível chegar em tempo na estação. Sei que levava bolsas de milho com noventa quilos e uma grande tina de banha, que, naturalmente devia pesar uns duzentos quilos. Arrastei esta em cima do cepo, descarreguei o milho e, antes de tirar a carroça para fora, arrastei a tina de banha novamente para dentro da carroça e dei jeito de levá-la para a estrada, onde carreguei de novo as bolsas de milho. E assim foi....
Como lembra Leandro Bertoli, sem ajuda das pontes, os colonizadores tinham que apelar para as balsas para atravessar o rio:
A primeira balsa pertenceu a Manoel Moratelli e servia de ligação entre a Barra das Pombas e Ribeirão Café. Mais tarde, outra, construída por Joaquim Pisetta, próximo à Olaria Pisetta, servia de comunicação com as regiões de Cabeça d'Anta e Dois Irmãos. Tinha onze metros de comprimento por três e meio de largura, toda em madeira de canela de primeira qualidade. O balseiro, o velho João Pisetta, cobrava cem réis para pessoas a pé, quinhentos réis para carroças, e duzentos réis para cavalos.
"Quando o rio estava mais cheio, favorecia o transporte de toras ou tábuas de madeira com balsas e canoas.
Essas balsas eram feitas por fileiras de sessenta até cem rolos. O normal era se sessenta e oitenta rolos, amarrados em cipó ou taquara. Quando a madeira era ' fundeira', isto é, pesava mais que a água, tinha de equilibrá-la com outra madeira mais leve, que boiasse e a que chamavam de ' boiadeira'. Por exemplo, a canela preta e a peroba são fundeiras, e o cedro 'bóia'.